A gente aprendeu a não enxergar a nossa potência.
- Viviane Lopes
- 13 de mai.
- 3 min de leitura
Fomos treinadas desde crianças, a olhar para o que falta: o que não fizemos, o que erramos, como deveríamos ser. “Feche a perna” “Seja boazinha”. Por um lado, nos adaptamos mais facilmente, olhamos no espelho e melhoramos com franqueza e humildade. Por outro, essa cobrança nunca acaba. E com o tempo, isso vira lente. A gente se acostuma a se medir pela ausência, pelo olhar repressor, pela comparação.
mas ouça, minha querida, a potência não grita! Ela sussurra ao pé do seu ouvido
Tome consciência, nas coisas silenciosas. No cuidado que você oferece quando ninguém está vendo. Na força que você tem para recomeçar mesmo cansada. Na sua habilidade de tentar achar respostas ou soluções, quando ninguém mais de mexe. A força que você usa para se manter em situações dolorosas, é a sua potência empregada no lugar errado, minha querida. Em vez disso, você pode usá-la para dizer “não” mesmo sentindo culpa. Pode dizer “sim” com verdade. Pode ocupar seu espaço com a suavidade de quem não precisa mais se provar.
Aprender a se reconhecer potente é um ato de amor radical.
É olhar no espelho e enxergar mais que as falhas — enxergar história, coragem, beleza, valor. É saber que você não é o que ainda falta. Você é o que já pulsa. O ímpeto de fazer diferente. De fazer escolhas que rompem com o que não faz sentido pra você. Desejo que você se permita reconhecer a sua potência.
Mas para enxergar essa potência toda, você precisa tirar de cima, as várias camadas de crenças e de dores causadas por pessoas e situações que te fizeram acreditar que não merecia ser vista e amada.
Na revista Amplia deste mês, estamos tratando sobre essa dinâmica em profundidade. Confira esse estudo aprofundado no link: http://amplia.com/revista
O corpo que se esconde por medo de ocupar espaço
Há mulheres que aprenderam a existir pelas bordas. Que andam com o ombro encolhido, a voz retraída, com vergonha de levantar a mão e falar. Elas acham que é por timidez — mas eu penso que é por sobrevivência. A história mostra que quando uma mulher fala objetivamente ela é muito criticada e taxada de “mulher masculinizada”, isso quando não acontece coisa pior - eu mesma reproduzi esse discurso machista aprendido em salas de aula. Sim, sob o pretexto de uma visão tradicional, paternalista, professores machistas me fizeram acreditar que a culpa é da mulher que não fica satisfeita com nada - entre piadas eles nos fazem achar que nós somos o problema - e mesmo que o problema não seja nosso, a solução precisa vir de nós. Então, nos acostumamos a suportar os avisos de dor que nosso corpo envia - e que não deveria ser suportado! Mas isso não começou na vida adulta. Esse padrão vem de muito a antes - na infância.
Como a humilhação registrada na infância afeta nossas relações pessoais e profissionais na vida adulta
Estudos mostram que experiências de humilhação corporal na infância e adolescência têm impactos duradouros na autoestima e na autopercepção. Segundo uma pesquisa publicada na revista Body Image (Piran & Cormier, 2022), cerca de 60% das mulheres relatam que evitaram atividades profissionais ou sociais importantes por vergonha.
Além disso, a herança de traumas coletivos — como violência de gênero e discriminação racial — também molda nossa relação com a visibilidade. De acordo com a ONU Mulheres (2021), 1 em cada 3 mulheres no mundo já sofreu violência física ou sexual, o que gera impactos diretos na expressão corporal e no medo de ocupar espaços públicos.
Essas dores se transformam em aprendizados silenciosos: "Não chame atenção", "Não seja provocativa", "Não mostre fraqueza". Hoje, convidamos você a iniciar um movimento de reconexão com seu próprio espaço interno e externo. Um ato de coragem radical: se permitir ocupar o lugar que é seu por direito.
Prática de Reconexão com o Corpo
Encontre um espaço seguro onde você possa se movimentar livremente.
Feche os olhos e inspire profundamente, imaginando que a cada inspiração você expande não apenas o pulmão, mas todo o seu campo de energia.
Abra os braços como se pudesse abraçar todo o espaço ao seu redor. Sinta como é "ser grande" — mesmo que venha medo ou desconforto.
Observe seu corpo: onde ele quer se encolher?
Onde ele resiste?
Permaneça alguns minutos nessa expansão, depois traga as mãos ao coração e agradeça a si mesma pela coragem de tentar.
Dica: pratique esse pequeno ritual diariamente por uma semana e registre o que sente no seu caderno da alma. Pequenas reconexões diárias podem gerar grandes transformações.
Obrigada por ler até aqui! Nos vemos no próximo texto.
Com carinho,
Viviane Lopes
Psicóloga Sistêmica
Escritora e Artista Terapeuta

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