Quando a sua esposa cansa de ser forte... é isso que ela traz para terapia.
- Viviane Lopes

- 26 de jun.
- 3 min de leitura
_ O que te trouxe aqui?
Perguntei, olhando para seu queixo arqueado. Olhos fixos no canto do teto. Ela encheu os pulmões com o ar da sala. Pequena pausa estufada antes de dizer:
_ "Às vezes, tudo o que eu queria era poder cair."
Com frequência, escuto algo semelhante das mulheres que recebo em meu consultório. Elas são vistas como fortes, corajosas, bem resolvidas, mas pode dentro sentem-se inseguras e frágeis. Dura por fora, mole por dentro.
Tudo o que elas querem é desabar sem explicação. Querem ser ouvidas! Sem ter que justificar. Sem que peçam calma ou equilíbrio — como se fossem sempre o ponto de apoio de um mundo inteiro. Mas quando você é aquela que ouve, acolhe, resolve, organiza, sustenta… quem é que te escuta? Quem segura tua mão quando você treme por dentro?
Percebo que essa dor de não se sentir vista e ouvida, toma conta das relações que esfriam a medida que o cansaço aumenta. E por não encontrar uma via de comunicação acolhedora, ela se encolhe dentro do seu pequeno papel de mulher "bem resolvida". Afinal, ela sente que não pode demonstrar vulnerabilidade. Seja para não parecer fraca, ou para não ser subestimada, seja para não se sentir inadequada, gerando desconforto no seu parceiro.
Ela continuou:
"Por muito tempo, achei que minha força era meu dom. Hoje sei que muitas vezes ela foi minha defesa. Ser forte era a única forma de não ser deixada. Era o meu modo de existir no mundo sem incomodar demais."
Sei como ela se sente, afinal, eu mesma demorei 38 anos para descobrir que uma parte desse cansaço também era físico. Descobri que sou celíaca — uma doença autoimune que ficou oculta por décadas no meu corpo. Desmaios, fraqueza, anemia profunda... quase morri duas vezes e mesmo assim, adiei exames, consultas, cuidados. Sabe por quê? Porque eu estava ocupada demais cuidando da saúde do meu ex-marido. E quando sobrava um tempo, eu estava cansada demais até para marcar um médico pra mim.
Não devemos sentir vergonha de reconhecer isso. Reconhecer, é o primeiro passo para mudar. Afinal, um dia — e esse dia sempre chega — o cansaço toca o osso. Você se olha no espelho e não reconhece mais a mulher que vê. E ainda cuida de todos, mas está vazia, seca. Gentil com todos, menos consigo.
E é nesse momento que a coragem precisa nascer. Não a coragem de aguentar calada. Mas a coragem de se permitir ser vista. Aparecer.
“A coragem começa com aparecer e deixar-se ver.” — Brené Brown
Aparecer significa se priorizar - e sim, pode ser um risco, porque você não sabe como o outro vai reagir a essa mudança - mas também é uma libertação fundamental. Porque quando você se mostra por inteiro — com sua tristeza, sua raiva, sua carência, sua luz — você para de implorar amor e começa a construí-lo, primeiro dentro.
Esse texto é para que maridos percebam que a necessidade de ser ouvida não é frescura, é um desejo válido e essencial para manter a saúde mental da sua esposa - que pode estar com sobrecarga mental. É também o convite para que homens desenvolvam repertório emocional para oferecer essa escuta ativa. Mas sobretudo, é o chamado para que mulheres se permitam desistir de ser forte o tempo todo — isso inclui dizer: “Hoje, eu preciso de colo.”.
Então, se por um lado, ela precisa aprender a pedir esse colo, por outro, ele precisa estar preparado para dar - não é tão fácil assim... mas é um treino importante para que ambos possam recuperar a conexão e a profundidade da relação.
Talvez você, mulher, tenha chegado aqui por isso. Porque a fortaleza que você construiu está ruindo. E, no fundo, você só quer ser cuidada. Então, permita-se. Comece por aqui.
Talvez você, homem, não esteja compreendendo o afastamento da sua esposa. É possível que esse texto possa lhe dar uma boa pista do que está acontecendo.
Deseja aprofundar sua jornada?
Toque aqui e vamos conversar.
Autoria
Viviane Lopes
Psicóloga Clinica CRP 06-127364
Escritora, Neurocientista e Terapeuta de Casais





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